Quando criança, no colégio, eu tinha duas boas amigas, fazíamos tudo juntas, morávamos perto. Foram minhas primeiras amigas e crescemos juntas até virarmos adolescentes. Éramos uma loira, uma morena e eu oriental. Um trio bonito, andando pelas ruas de Osasco, cidade onde nasci, estudei e vivi até entrar na faculdade.
Éramos companheiras constantes, e eu sentia uma pontinha de inveja delas porque elas tinham família no interior e na praia e sempre sumiam nas férias. E voltavam sempre cheias de histórias, principalmente quando viramos adolescentes e então vinham as histórias dos paqueras surfistas.
Lembro que um dia uma delas estava muito triste, e chorava de soluçar. Olhou para mim e perguntou " vc sabe o que é ser feliz? eu acho que nunca fui feliz na minha vida!" Quem disse que ignorância é ruim? Eu nunca havia pensado naquilo. E talvez nunca tenha sofrido daquela forma por aquilo.
Mas sei que fiquei bem surpresa. Como ela, loira e linda, a menina mais bonita da escola que namorava o menino mais bonito da escola, inteligente, classe média, férias fora, roupas lindas, bronzeada, saúde perfeita... Como podia não ser feliz? Se ela não era, quem seria.
E logo depois eu sai de Osasco, passei a morar em Sampa, pegava meu onibus para ir para a faculdade e um dia, dentro do onibus, indo para a GV fazer educação física a noite, uma noite quente, boa de verão, ouvindo uma música de algum rádio, me deu uma sensação tão boa. De absoluto prazer e agradecimento pela vida.
E comecei a entender que o importante é reconhecer esses momentos. Que felicidade não é
uma fase da vida mas o reconhecimento desses momentos de prazer.
Ontem eu fui correr aqui pelas ruas do bairro, não fazia frio, nem vento. Temperatura de 14 graus! Fui correndo, ouvindo meu ipod, vendo as pessoas, sentindo a adrenalina, a seratonina, o cansaço, o coração disparado. Cruzei com um senhor que me disse para não correr tanto. Ri, continuei minha marcha. Não pude evitar um sorriso feliz quando terminei.
Aprendi a agradecer também, por ter saúde, por ter vontade, por não me acomodar e principalmente por saber aprender. Tanto coisa para aprender nessa vida. Aprendi a lutar, aprendi a ganhar a vida e agora aprendo a viver com menos, a viver simplesmente.
O que vou fazer eu ainda não sei, mas agradeço de coração a oportunidade de estar aqui e agradeço o acolhimento e o amor do Manu. E agradeço a vida.
Eu tenho tentado desenvolver mais o lado espiritual, por isso a procura pela yoga, a terapia, o autoconhecimento. E aprendi a rezar: eu aceito, eu entrego, eu confio, eu agradeço. E vivo um momento estranho, revés. Quanto menos luto, mais tenho.
Namastê.