lunes, 31 de agosto de 2009

Comer, rezar e amar versao tupiniquim

Desde que eu sai da IBM que eu comecei a ouvir falar desse livro. As pessoas começaram a associar esse livro a mim. Ela tinha uma vida que, para quem olha de fora, era perfeita. Ela tinha um bom emprego, um bom marido, uma boa casa, era uma mulher bonita e nova... mas ela começa o livro chorando no chão do banheiro, absolutamente infeliz. E ela larga tudo e vai viver um ano quase que sem compromisso. Vai para Italia comer, para a India rezar e para a Indonésia buscar equilíbrio, e lá, encontra o amor. Acho que me associam com o livro porque larguei um emprego bom e estou em uma busca mais espiritual.

Agora que vim para o centro budista, as pessoas começaram a lembrar de novo dessa história. A Alezinha até me escreveu assim: "Ju, que lance eh este de "Rezar, Comer, Amar"? Olha p/ encontrar um gaucho basta ir p/ o RGS, nao precisa ir p/ Bali, ta? (rs)"

Mas infelizmente eu não vou ganhar os milhões que ela ganhou com o livro e com a venda dos direitos para fazer um filme. O meu blog é grátis! 

E a outra diferença é... eu comecei a minha viagem pelo AMAR. Eu fui para Espanha para namorar, começar uma nova etapa da minha vida lá com base no amor.

Agora, eu vim para esse centro budista,  que as pessoas associam ao REZAR mas eu não estou num retiro pessoal, eu vim para fazer trabalho voluntário. Claro que aprendo muito aqui, aprendo o prazer do meditar e diminuir o fluxo de pensamento que sempre foi uma coisa louca na minha cabeça... racionalizando tudo, pensando em tudo, imaginando mil possibilidades, um zumzum louco. Outro dia fui dormir e percebi, com um certo prazer, que tinha poucos pensamentos na minha cabeça, e achei aquilo tão bom, tão mais tranquilo.

Mas meu medo é que, se eu realmente estiver encaminhando minha vida com base nesse livro, mas de forma totalmente tupiniquim e inversa, eu vou acabar no COMER!!!!!!

Hehheheeh, espero que não. Comer é bom, claro, mas engorda e diminuia a expectativa de vida. Mas amar é muito melhor! Outro dia, num chat com a Ka, ela disse algo e eu respondi, na verdade nem lembro qual era o assunto. Mas lembro que ela me disse algo como, "vc continua uma eterna romântica!". E ai sim, eu lembro da resposta. "É que de todos os sentimentos que vivi, o que eu mais gosto é do amor". Por que eu escolheria outro? 




sábado, 29 de agosto de 2009

Felicidades aos noivos!!!


Hoje é um dia especial e escrevo isso me sentindo bem feliz porque sei que uma das pessoas que mais amo na vida vai ter um dia lindo.

A Deia (Gold) faz aniversário hoje. E nesse momento ela deve estar dentro do avião, rumo a Paris, um dos lugares mais lindos do mundo. Paris foi o lugar escolhido para comemorar o aniversário dela e comemorar o CASAMENTO deles! Sim, eles casaram! Ontem, dia 28 de agosto.

PARABÉNS AOS NOIVOS!!! Deia e Ale, que vcs sejam muito felizes! Que o casamento de vocês seja um caminhar de amor, respeito e aprendizado. Que vcs aprendam, juntos, a fazer um ao outro felizes.

Eles foram ontem no cartório e assinaram um papel. Eu quando era bem mais nova, achava isso besteira, tinha até medo só de pensar em casamento formal. E o tempo vai passando e vc vai revisando suas crenças. Eu hoje acho que tem que casar sim! Assinar papel e mais importante de tudo, comemorar! 

Porque entendo hoje que isso são os ritos de passagem. É onde vc fecha e começa ciclos. E isso nada mais é que o movimento da vida, que é cheia de momentos bons e ruins. Portanto,  o melhor de tudo, é poder viver e comemorar todos os momentos bons e felizes. 

E eu fico bem mais feliz em saber que eles estão me esperando para poder comemorar! Festa vai ser quando eu chegar no Brasil.... ai, quanta pretensão... To me achando. Vamos falar o certo. Déia, pelo amor de Deus, espera eu voltar para fazer a festa!!!PPPllleaaassssseeeeee! Te peço de joelhos!

Se bem que eu to sabendo que a escolha de Paris não foi assim por acaso. A Van vai estar lá. A mais que linda,fofa e divertida Van. Que saudades de todo mundo! Quero ir para Paris também!!!!!!!!

E já tava esquecendo de pôr o videozinho fofo que o pessoal da Apoena fez para os noivos, além é claro, do bolo, dos docinhos, da festa e do carinho todo com eles. 

Antes que eu esqueça também... Feliz Aniversário, Déia. Te amo de montón, como diz o Nico. 



jueves, 27 de agosto de 2009

The proud peacock




Junta gente nova, cheia de energia e criatividade, só pode ser divertido. Aqui tem uma garotada que faz ou fez arte, direção de filmes, história da arte, computação, relações internacionais... e por ai vai, ou seja, tem de tudo. Eles resolveram rodar um filminho baseado na história do Orgulho Pavão, livro infantil de uma série chamada Jataka Tales, da Dharma Publishing.

Fizeram chamadas, se juntaram para fazer as fantasias e no último domingo teve a filmagem. Eu fui de platéia. Não fiquei com nenhuma vontade de sair vestida de pássaro mas fiz questão de ir ver.

A história é a seguinte, o rei resolve casar a princesa e organiza um evento onde todos os pássaros são convocados. Um a um, eles vão se apresentando e a princesa recusa a todos. Até que chega o maravilhoso pavão e ela, impressionadíssima, o aceita. 

O pavão, orgulhoso de ter sido escolhido, sai mostrando a todos como ele é o melhor e o mais bonito. E a princesa o vê fazendo isso e não gosta nem um pouco de tanta arrogância. Nesse momento, passa o Pato Intelectual e ele se apaixona perdidamente pela princesa. Ele vai falar com ela e o milagre acontece, ela se apaixonada pela simplicidade e cultura dele. The End.

Quase morri de rir. Muito bom. Não saiu ainda o filminho, assim que aparecer eu ponho aqui. Bom, pra falar a verdade, tava escrito no email que ia ter vinho e cerveja. Tive que ir verificar né? E a noite acabou numa baladinha. Acho que to ficando velha. Eu ficava pensando assim, "tem gente aqui que tem 20 anos. Dá para ser meu filho! Ainda bem que não é! "

E sabe o que eles ouvem? David Bowie, Pet Shop Boys, Madona, REM, rolou um pouco de hip hop (que eu adoro) e muito pouco de tecno. Um povo ficou na mesa pintando, é pintando mesmo! Nem eu acreditei. Eu resolvi dançar. E quem dançou mais foram os mais velhos. Adorei.






martes, 25 de agosto de 2009

Dia de Descanso


Domingão é o único dia de descanso aqui. Já falei que aqui não se pode dizer TGI's Friday!  Mas o lado bom é que vc valoriza muito o teu descanso. 

No meu primeiro domingo, eu fui com a Magda para uma cidadezinha aqui perto. Lembrando que perto é no mínimo uma hora. Paramos numa praia mas não descemos, fizemos a trilha por cima, quase não tem praia, na forma como nos conhecemos. E ficamos olhando as casinhas, bonitas, de madeira (como tudo por aqui) e caminhamos bastante. Batia um vento forte e frio. Como fomos pela tarde, isso foi ótimo para abrir o apetite e escolher um restaurante para jantar. Escolhemos peixe e camarão, muito bem feito, acompanhado de um vinho forte, californiano da casa. 

No segundo domingo fomos, a Magda, a Debra e eu para Petaluma. É um pouco menos de duas horas daqui. Almoçamos por lá e fomos fazer compras no outlet que eles tem. Bonzão! A Debra queria comprar roupas para um casamento só que ela tá um pouco fora de forma e nas primeiras lojas, não encontrou nada. Aí encontramos uma loja para pessoas grandes e tinha tanta coisa bonita. Depois de muito experimentar ela finalmente conseguiu comprar duas peças. Vai ficar bem bonita no casamento. 

Eu aproveitei e comprei um sapatinho, um Skechers, sapatinho para andar, maleável, confortável, bom para viajar. E ai que vc vê como esses outlets são bons. O segundo par de sapatos tinha 50% de desconto. Quase comprei outro. Comprei 2 camisetas brancas também, aqui em Ratna Ling, lavar roupa não tem custo, tudo é fornecido,  mas a máquina é enorme e eu fico com dó de lavar algumas camisetas e calça jeans. Não tenho usado nada mais além disso. Só casaco por cima por causa do frio, portanto deixo acumular bastante e as novas camisetas estão ajudando. 

E nesse último domingo,  fui com outros voluntários fazer a trilha até a praia, Stump Beach. Deve dar uns 4kms de caminhada, por dentro da floresta. Mas trilha de americano, completamente demarcada, fácil. Entre descer e subir (que demora bem mais) demora umas três horas, mas a gente ficou um bom tempo na praia. Não fazia sol, mas ficamos comendo, conversando, vendo as paisagens. Muito bom!

O próximo ainda não sei, mas já é o último! Despedida.






Preservação e Distribuição de Textos Tibetanos Sagrados



Ratna Ling engloba 3 organizações. E vou tentar explicar isso com o que encontrei nos sites e pelo que estou vivendo e vendo aqui. A primeira é o próprio Ratna Ling Retreat Center ou seja, um centro para retiros, workshops, palestras e programas em cura e bem estar, independente da escolha religiosa. Esses eventos podem ser de duração variada, sendo desde um fim de semana há meses, abertos a todos e pagos. 

A outra organização que tem aqui é a Dharma Publishing que é onde eu estou fazendo meu trabalho voluntário. Vim ajudar na área financeira (afinal, esse é meu background) e tenho a Magda como mentora e amiga. A Dharma Publishing é o escritório que fica em cima da gráfica e que coordena a parte de impressão e publicação de textos tibetanos traduzidos para as mais diversas línguas assim como vários livros escritos com base nas necessidades e preocupações da vida moderna tendo como fundamento os ensinamentos tibetanos. Muitos deles são de autoria do Tarthang Tulku Riponche. Aliás, Tulku significa lama reencarnado. Riponche é um título honorífico dado que significa O Precioso, mas se entendi direito, significa algo mais como Grande Mestre Espiritual. Acho que mais para frente, vou falar um pouco mais dos livros dele. Bom, a Dharma Publishing começou em 1971, dizem que é a mais antiga gráfica de textos tibetanos do Ocidente.

E finalmente, a Yeshe De que é o objetivo maior de tudo isso. Preservar e distribuir os sagrados textos tibetanos. E a história por trás disso é bem bonita.

Bom, sabemos que o Tibet foi invadido em 1950 pelos chineses, que destruíram o país e seus monastérios. Muitos tibetanos fugiram, através do Himalaia, muitos deles descalços e sem pertences pessoais, mas carregando o que conseguiram levar dos livros sagrados. Muito se perdeu e quando Riponche chegou nos Estados Unidos, começou a buscar esses livros pelo mundo para reimprimi-los e preserva-los. Mas depois de conseguir montar duas grandes coleções, ele passou a ter um objetivo maior que é de imprimir e distribuir esses livros, e portanto, todo esse conhecimento para o povo tibetano. Tem uma frase bonita que fala: conhecimento da cultura e da arte tibetana conforme eles tem direito por nascimento (born right).

Em 1989, Riponche iniciou a primeira Cerimônia pela Paz Mundial, em Bodhgaya, India, local onde Buda encontrou a iluminação. Nessa cerimônia, reza-se pela paz e pela compaixão mundial. A primeira cerimônia contou com 500 monges e distribuição da mesma quantidade de livros. Hoje, 20 anos depois, mais de 2 milhões de livros já foram distribuidos. Espera-se para esse ano, a distribuição de mais de 350.000 livros, com a participação de 1500 monges, mais estudantes, professores, cidadões. Dizem que muitos caminham dias, outros caminham meses para chegar no local. Eu vi o filme no site, bonito ver as expressões de agradecimento e felicidade. Isso para eles é fonte de inspiração e conhecimento que é levado para suas famílias, para as escolas, bibliotecas e vilas. O acesso antes era restrito, muitos livros ficavam em altares por serem exemplares únicos agora, com essa distribuição passa a ser o mais amplo possível. Diz no filme do site  (vejam! é bonito) que essa é a maior distribuição de livros gratuitas da história da humanidade. Essa quantidade de livros nesse ano, significa 25 caminhões de livros andando pelas estradinhas da Índia até chegar em Bodhgaya. Lá no filme tem mais detalhes dessa história que eu tentei resumir. Lá também é dito que tudo isso é possível por causa do trabalho de um pequeno grupo de voluntários e, claro pelos doadores.

Portanto, a grande maioria dos voluntários são recrutados para trabalhar na gráfica, no projeto da Yeshe De. São jovens, recém saídos da faculdade, ou mesmo ainda na faculdade, que vêm com uma super energia, trabalhar na gráfica, 6 dias por semana, durante um período que pode ser o mais variado possível mas geralmente ficam mais de 3 meses porque assim eles tem direito a uma ajuda de custo de $150 dolares por mês. É um trabalho extenuante e mesmo assim, a maioria aparece nas aulas, outros eu encontro na estrada correndo e sempre tem as baladinhas lá no Common, que eu só compareci na última. Haja energia porque trabalham várias horas de pé. Há vários trabalhos, tirar os livros da prensa, cortar as capas (que são madeirinhas), pintar os livros de vermelho, carregar e transportar pilhas e pilhas de livros, montar os livros, consertar erros de sequência... 

Detalhes: os livros são todos em tibetanos, e depois de cortados, segue toda uma sequência manual. Eles não são encadernados e recebem uma pintura vermelha nas laterais, depois a capa e contracapa são colocadas, embrulha-se num pano vermelho e finalmente são amarrados com fita vermelha. 

Esses voluntários são recrutados e selecionados através de um site chamado CoolWorks.com, que tem uma chamadinha bem bonita:

"Work and live in a spiritual community of like-minded people dedicated to service to humanity through a wide variety of projects both local and global.  This year-round residential work-study opportunity combines meaningful work with opportunities for self-growth. We have two locations - our city location is in Berkeley, CA and our rural location is in Sonoma County, about 100 miles north of San Francisco


Mil desculpas para quem não entende inglês, mas tá tarde e eu to morrendo de sono. Hora de ir para cama, não para ficar traduzindo.

Mas, para concluir, um projeto bonito, portanto um trabalho e uma vivência únicas. Eu fico bem feliz em poder ajudar e contribuir com esse projeto.

Dia de Faxina


No primeiro sábado, estava na lista do Thistle. No segundo sábado, entrei na lista de limpar o escritório, ufa! Alívio completo, fiquei com uma metade, só a parte do escritório em si mesmo, nada da copa nem do banheiro. Eu detesto limpar banheiro. Foi só passar o aspirador e tirar a poeira dos móveis.

Sábado passado eu fui pensando, bem que eu podia tirar matinho de novo, fazia um dia bonito, seria ótimo. Mas como aqui é tudo meio sistema de rodízio, seria muito difícil. E não é que, para minha surpresa, ouvi meu nome na lista do thistle de novo. Obrigada, anjo!

Comentei com a Toni, responsável por essa atividade,  que estava bem feliz de poder fazer aquilo de novo. Ela disse: eu sei que vc gostou por isso que te escolhi de novo. Oba!!!! Santa Toni.

Dessa vez eu tirei uma foto. Sou profunda conhecedora desse matinho agora!  Como se isso fosse muito útil... heheeh Mas adoro as duas horas que passo fazendo isso, ao ar livre, tomando sol gostoso e com a sensação de que estou fazendo algo importante. Porque se vc não mata isso pela raiz, isso se multiplica rapidamente, mata a grama e é cheio de espinhos, é perigoso.

Vou para o meu último sábado. Tomara que seja algo bom! Aprendi a não pensar nas possibilidades ruins. 

Dona Natureza



A natureza aqui proporciona um espetáculo todo dia. Quando acordo de manhã, abro a cortina para ver se faz sol, se está nublado ou se tem fog (neblina). Cada dia é uma novidade. Eu gosto dos dias que tem fog, parece que estou andando dentro de uma nuvem, é geladinho e aqui não tem som nenhum e me sinto no cenário daquele livro, As Brumas de Avalon.

E o fog vai e abre um dia lindo, de céu bem azul, um sol gostoso. Mas é só cair a tarde que vem aquele vento frio. E quando escure, o céu pipoca de estrelas. Fico olhando quase todo o céu parece pontilhado desses pequenos pontos luminosos, ás vezes concentrados, dando a impressão de uma nuvem de estrelas (deve ter algum termo científico para isso). Já passei pela lua cheia, e fiquei olhando muito tempo. Duas noites foram quentes, de sair e pensar: oba, tá gostoso! Numa delas, fiquei deitadinha na espreguiçadeira da varanda olhando. Não era o melhor lugar porque tem árvores cobrindo uma parte do céu, mas eu estava tão confortável que não quis me mudar.

Eu já tentei tirar fotos da noite aqui mas infelizmente, com a câmera que eu tenho, ou talvez seja minha completa falta de habilidade com fotos, não consegui tirar nenhuma decente. Vai ficar na memória mesmo. Uma pena.

Não tem jeito, mesmo sendo verão, aqui tem que ter blusa de manhã e a noite. Frio. E vento. Mas a Dona Natureza proporciona mesmo um espetáculo diário. Me sinto privilegiada por estar aqui e poder apreciar isso. E por ter o tempo para apreciar.

lunes, 17 de agosto de 2009

Living Without Regret

"Everything has a beginning, a middle, and a ending. Beginnings require energy and creativity; in the middle one needs to persist and follow through. Endings demand the courage to consciously bring matters to a close, enjoy what has been accomplished, and then let go...

... A happy conclusion is not always feasible, and there is no such thing as ideal closure. When a period of our lives is over, however, there is considerable value in taking the time to reflect on what has happened, if possible with the other people involved. It may be tempting to ignore the end, but by doing this, we miss the opportunity to bring what was valuable in this phase into the next. Without closure, we risk losing a part of our memory.

Impermanence is a fact of life, simultaneously one of the most painful and beautiful. In its beautu, impermanence allows us to move on and still retain what we have held dear. A time that has been brought to an appropriate close can be remembered in its fullness, without anxiety or regret. Such memories, knowledge, and feelings fuel and nourish our lives; they become part of us."

from 
Living Without Regret
Human Experience in Light of Tibetan Buddhism
by Arnaud Maitland
2005 by Dharma Publishing

Traduzindo (por conta e risco meu, ou será melhor dizer, versão particular?)

"Tudo tem um começo, um meio e um fim. Começar requer energia e criatividade, no meio, tem que persistir para continuar. Finalizar necessita coragem para conscientemente trazer o que importa para o fim, desfrutar do que foi obtido e deixar ir, terminar.

... um final feliz nem sempre é possível. E não tem essa coisa de fim ideal. Mas quando uma fase da nossa vida termina, é muito importante ter um tempo para refletir sobre o que aconteceu, de preferência com a pessoa envolvida. Ás vezes, é tentador simplesmente ignorar o fim, mas fazendo isso, perdemos a oportunidade de trazer o que era importante dessa fase para a próxima. Sem fechamento, corremos o risco de perder parte de nossa memória. 

Impermanência é um fato da vida, simultaneamente um dos momentos mais dolorosos e mais bonitos. Na sua beleza, a impermanência permite que nós possamos seguir em frente e reter o que houve de bom. Um tempo que foi devidamente finalizado pode ser lembrado em sua totalidade, sem ansiedade ou sem remorso. Essas memórias, esse conhecimento e esses sentimentos nos alimentam e nutrem nossas vidas, eles passam a fazer parte de nós."

Vivendo sem arrependimento
A experiência humana à luz do Budismo Tibetano
de Arnaud Maitland
2005 Editora Dharma Publishing

Eu ganhei esse livro e to adorando ler. Aprendendo e lendo coisas que são exatamente o que eu penso. Sou budista e não sabia?

Passei esse tempo todo, entre minha saída de Madrid até há pouco, tentando fechar essa relação exatamente dessa forma, conversando com o Manu, dividindo bons momento, entendendo o que foi errado e principalmente aprendendo a minha lição. 

Nessa finalização, o melhor teria sido fazer isso ao vivo, infelizmente foi tudo por skype, telefone e msn. 

Ficam as boas lembranças, uma fase linda e com certeza a mais tranquila da minha vida, onde fui bem feliz. Essas memórias agora fazem parte da minha vida.

Obrigada, Manu.

viernes, 14 de agosto de 2009

Ratna Ling I



Ratna Ling é um retiro e um centro de budismo tibetano, fundado por Tarthang Tulku Rinpoche, lama tibetano que veio para os Estados Unidos ,em 1969, com o firme propósito de preservar e ensinar a cultura e a arte tibetana. Inicialmente ele fundou o Nyingma Institute, em Berkeley CA, e hoje tem centros na Holanda, na Alemanha e no Brasil (Nyingma Brasil).

Aqui é lindo, no norte da Califórnia e a viagem até aqui é bem bonita, são umas 3 horas ao norte de São Francisco, pela costa. Conforme vc vai chegando, a paisagem muda, o norte tem uma paisagem mais agrícola, passa pela região dos vinhos, com suas parreiras e começa uma zona rural, cheia de pastos e propriedades agrícolas. E de repente abre, aparece o mar, numa vista linda. A estrada para a propriedade é outro passeio bonito, cheio de pinheiros, verde, subindo. Aqui é distante, a cidade mais próxima fica há uma hora. 

Mas a propriedade é bonita, bem cuidada, cercada por uma cerca branca (que é de plástico, mas engana bem). Aqui foi construído para ser um hotel, então tudo é muito bonito, eles desistiram do projeto e venderam barato para o Instituto que só depois descobriram que estava barato porque a casa principal (lodge) não tem a fundação obrigatória pela lei da Califórnia para terremotos. Tiveram que refazer toda a fundação, trabalho que levou mais de um ano para ser completado. 

Eu tenho meu próprio chalé, que é um luxo, tem lareira que acende apertando o botão, bem coisa de americano, é elétrica mas tem umas madeirinhas e um 
foguinho que engana bem e tem também uma varanda, com mesa e espreguiçadeira. Falo bom dia para as árvores toda manhã. Os chalés, no geral, são para os visitantes, parentes de quem está vivendo aqui e vêm fazer visitas curtas, ou para participantes de retiros e workshops, eu acho que dei sorte, ou a indicação foi boa mesmo. Os residentes vivem aqui, no geral, há muito tempo, abraçaram a causa e fizeram daqui um lar, cada 3 ou 4 dividem casas, mas cada um no geral tem o seu quarto.   Os voluntários ficam em casas também, as vezes dividem quartos e tem um lugar que é chamado de Common, uma casa onde tem várias facilidades e onde fica a tv, os jogos, o dvd, aparelho de música e a lavanderia. Mas onde todo mundo passa mesmo é no lodge, onde são feitas as refeições, tem a cozinha, a despensa, a biblioteca, a administração do centro, sala de aula e uma sala imensa de meditação e espaço para workshops. E uma área externa, cheio de mesas, barulho de água... ás vezes eu gosto de comer aqui, acho relaxante.

Comida vegetariana no almoço, tudo para lanche nos intervalos, muita fruta e se vc precisar encher a geladeira da sua casa, é só fazer a lista que eles mandam. Ou seja, a comida é a vontade e excelente. O jantar vc vai na cozinha e assalta a geladeira, geralmente o que sobrou do almoço (leftover). Eu pedi para a minha geladeira só coisas para o café da manhã, fico com preguiça de ir até a cozinha ou até o Common, então tenho pão (delícia, cheio de grãos e gergelim), queijo suiço, iogurte, granola e fruta. E pedi um pote de Peanut Butter, o nosso famoso amendocrem, que no Brasil não compro e não vejo há anos mas que eu adoro aqui. Só descobri que o negócio tem 200 calorias em duas colheres, então... fico olhando para ele, ele olha pra mim. Ás vezes eu ganho, ás vezes ele ganha. 

Vim fazer trabalho voluntário que começa as 8:00, cantando mantra e acaba as 17:15 cantando mantra também. Tem hora de almoço e dois horários de lanchinho. Mas se trabalha de sábado também. E isso é bem duro porque é horário normal e na manhã tem duas horas dedicadas a cuidados gerais com a propriedade. Em outras palavras, faxina! Bom, tive sorte no primeiro sábado.  Fiquei com o Thistle. Nem idéia do que era isso. Segui a turma, ganhei uma enxadinha com um cabo comprido e fiquei aliviada quando uma americana perguntou o que era aquilo. É um mato, que quando cresce tem uns espinhos e tem que arrancar porque se espalha pela propriedade inteira. Aprendi a reconhecer e agora vejo por tudo quanto é lado. Mas sabe que curti fazer? Sou garota de apartamento, nunca peguei numa enxada, nunca fui pro mato. E é só enfiar a parte afiada da enxada na raiz que o negócio sai facinho. 

E logo depois do trabalho, durante a semana, tem aula. Pena que não tem muitas, é quase uma por noite, o que significa que num período de um mês, tempo que vou ficar aqui,  só vou ter 4 aulas de Kum Nye (yoga tibetana), 4 de meditação (que amanhã já vou dar o cano porque tenho compromisso), 4 de budismo (já perdi uma). Aula de língua tibetana acho que não rola, aula de preservação de textos tibetanos pode ser legal mas é na hora do almoço (eu nunca faço nada nessa hora, é sagrada para comer!). E tem umas aulas de uma hora e meia mas logo em seguida de outra que não deixa nem espaço para jantar. Quer dizer, o povo janta cedo então para eles deve praticamente juntar uma aula na outra. Mas eu não consigo jantar 5:30. Eu, nesse horário, como meu lanchinho, fico aqui no blog ou vou correr. Aliás, não corria desde Sampa (uma vezinha só) mas aqui, correr na estradinha é uma delícia porque ela é quase fechada pelas árvores, o que não deixa bater o sol forte e sempre tem um ventinho. 

Fui correr no domingo, em uma hora de corrida e caminhada pela estrada, passaram por mim, 4 carros, duas bicicletas e duas vacas. Disseram que é porque é verão, tudo fica mais movimentado.

Aqui também têm outros moradores, tem muito veadinho e perus. Dizem que os novos habitantes serão pavões. Mas a maior diversidade é a humana. Tem gente do mundo inteiro aqui, muito brasileiro também, claro, e os voluntários são na sua maioria estudantes recém formados. Ficam de 3 a 6 meses. Acho que para eles deve ser mais difícil, afinal estão no auge das baladas e vir para cá, para trabalhar duro, afastado de tudo, deve ser bem difícil. Mas acho que como tem uma crise rondando por aí, e estudante aqui sai endividado da faculdade, aqui é uma opção. E acho que vêm quem se interessa mesmo porque vejo muitos deles lendo os livros e participando das aulas.

Acho que aqui é aquele lugar de sonho, verde, bonito, tranquilo e seguro. Eu na primeira semana trancava minha casinha, agora, segunda semana, largo tudo aberto. É que eu quase perdi a chave, então resolvi parar de perder coisas. Só não levar a chave. Simplificando.

lunes, 10 de agosto de 2009

Vento de mudança

Quem viu Chocolate, o filme? Com  Juliette Binoche e o Johnny Deep. Foi filmado numa cidadezinha francesa chamada Flavigny,  Borgonha. Dizem que não se produz chocolate lá, mas sim uma balinha  de anis famosa na França inteira, o Anis de Flavigny, produzido desde 1650, inicialmente numa antiga abadia.

Eu não conheço a cidade, dizem que é pequena, quase uma vila medieval motivo porque ela foi escolhida para o filme. Mas também por causa do vento que bate lá.

Lembram do vento? Eu lembro. Quando vi a personagem da Juliette,  ouvindo o vento e arrumando as malas para partir novamente, lembro de saber exatamente o que aquilo significava. Hora de ir embora, hora de mudar. Chamem de fuga, chamem de crescimento, chamem de etapa concluída, chamem do que quiserem. Talvez seja cada uma dessas coisas em seu devido momento.

Eu ás vezes sinto isso. Metaforicamente sinto que bate um vento e que é hora de mudar. De seguir outro rumo. E eu arrumo as coisas e vou.

Já fiz algumas mudanças na minha vida, de trabalho, de casa, de cidade, de carreira, de amores.  E quando estava em Madrid, senti o vento novamente. Eu teria que voltar de qualquer forma para Sampa para legalizar a situação. Mas eu não podia ignorar o vento.

E ele me trouxe para cá, para Califórnia. Decidi que não vou voltar para Madrid. Fui absolutamente feliz lá, creio que realmente é uma cidade ótima para se viver e ter família. Mas eu não fui para Madrid por causa  da cidade e da qualidade de vida de lá. Eu fui viver um amor.

Sempre lembro de uma frase que um amigo em comum me falou: que amor de verdade é aquele que vc descobre do seu lado, naquele com quem vc conversa, divide as coisas e abre o coração.  Amizade que vira amor. Ou amor que é amizade. Eu conheço o Manu desde 2003, pessoa querida, um dos melhores seres humanos que conheço, de coração grande, íntegro, querido mesmo. Ficamos juntos em 2007 e não dá para namorar a distância, não para mim, pelo menos.  Eu fui ver se amizade vira amor, se amor e amizade se integram.

Pelo menos para nós isso não aconteceu. E eu descobri que não posso casar com um amigo. Por melhor que fossem as condições, por melhor que fosse a amizade, por melhor que fosse a história para se contada.

Como não vivo para contar historias bonitas, resolvi não insistir. E, nesse caso, amizade continua amizade.

Não foi uma decisao fácil, dói. Dói muito. É um sofrimento que te golpeia o coração. E nesse caso, pelo menos para mim, dói também porque sei  que causo sofrimento. Mas realmente creio, e rezo, para que seja o melhor para nós dois.

E agradeço de coração, tudo o que vivi nesses meses em Madri.

E sigo o vento. Que não sei para aonde mais me leva.

miércoles, 5 de agosto de 2009

Harbin Hot Spring

Foi lá o curso de tantra. Fica logo depois do Napa Valley, umas 3 horas ao norte de San Francisco. O lugar é lindo, uma grande reserva natural, com piscinas de água naturalmente quente, onde muita gente vai para fazer caminhadas, acampar e aproveitar a água.

Não tenho uma foto, quando cheguei me disseram que não era permitido. E ai entendi. O site não fala absolutamente nada, só lembro de ter lido em algum lugar que é "clothing optional". Nas piscinas, quase todo mundo fica ao natural.

Em respeito, nem tirei minha máquina da bolsa. E adorei o que vi. Podem falar o que quiserem, que ninguém olha, que tá todo mundo acostumado... Eu pus o meu óculos escuros e olhei muito sim. Imagina se eu ia perder a oportunidade. E vi de tudo quanto era tipo. Agora tenho a comentar que nas mulheres, o que eu menos vi foi silicone. E vi muitos casais, desses que parece que saíram de Woodstock, ainda de cabelos longos e agora brancos, abraçados, fazendo massagem, lendo juntos, numa sintonia bem bonita.

Sabiam que em Harbin que surgiu o Watsu? Eu não sabia. Adorei saber, fiz um curso disso em 2003, achei bem legal e é fácil entender porque surgiu lá. Tanta água quente e tanto casal se curtindo.

E eu pus o meu saco de dormir no deck do lado de fora. Dormi debaixo de um céu absurdamente estrelado e lua cheia. E pela primeira vez na minha vida, vi uma estrela cadente. E acordei morrendo de frio no meio da noite, sorte que eu tinha meu moleton. Acordei também com uns passinhos no deck, quando virei para ver quem era, vi sair um veadinho em disparada. Acho que nunca teria coragem de fazer isso no Brasil, mas aqui me sinto segura para fazer. 

A comida do lugar era maravilhosa, pelo menos para o workshop tinha uma cozinha separada e era tudo orgânico, fresco, criativo, uma delícia. 

Só Harbin, para mim, foi uma experiência enorme. 

Ipsalu Tantra Kriya Yoga

Esse foi o curso que eu fui fazer. Gostei!

Sabe como começou o curso? Explicando o que significa Namastê. Saudação que significa: o Deus que habita em mim, saúda o Deus que existe em você. É o reconhecimento do divino em cada um de nós. Como não gostar de um curso que começa assim?

Eles mostram que acima de tudo, fazer amor é um ritual. E como tudo na vida, requer treino, prática, esforço mas num exercício muito bonito de amor e valorização do ser humano que vc escolheu como parceiro. 

Como ritual mostraram que começa com:
1)  acordar e movimentar o corpo (awake the body), por isso a importância de música para levantar, dançar e fazer a energia circular.  Toda sessão começava com uma música, aquela batidinha da música árabe, lounge, algo animado e ritmado.
2) acalmar a mente (still the mind), desligar-se dos problemas, esquecer o mundo e estar presente. E aí vieram exercícios de respiração e coisas simples como olhar, olhar bem nos olhos, longamente. 
3) despertar a energia sexual (arise the sexual energy) através exercícios como um simples abraço, um longo abraço na verdade, respirando junto (quando um inspira o outro aspira essa energia)
4) transferir essa energia sexual (transmute passion)
5) e aproveitar o êxtase ou felicidade infinita (enjoy the bliss)

Teve muita coisa: música e dança, mantras, exercícios de taichi, massagem, o famoso pratinho de frutas e chocolates cuja única regra é que todo pedaço tem que ser oferecido cada vez de uma forma diferente, sons para mostrar como vc está apreciando tudo que acontece (o famoso uh, ah...), exercícios pélvicos, posições, respiração. Muita respiração, aliás é através dela que vc para, respira, levanta energia e começa tudo de novo. 

Fazer da relação um movimento orgásmico e não ter o orgasmo como fim. E eu acho que finalmente entendi isso. Não significa simplesmente não gozar que é o que a gente normalmente ouve por aí. Mas deixar de pensar no orgasmo como fim. Acho que hoje, com a correria do dia a dia, fica quase aquela rapidinha para aliviar. Poxa, é diferente no sentido de incorporar os movimentos orgâsmicos na relação, difícil de explicar mas eles mostraram isso de uma forma bem interessante.

A mulher faz isso mais naturalmente, o homem tem que aprender. Vivenciar o ritual, estar presente, focando muito o momento e a pessoa. Viver intensamente um relacionamento íntimo. Eu ultimamente tenho pensado muito nisso e o curso veio tocar exatamente nesses pontos. Eles falam em transformar energia sexual em energia espiritual. Achei lindo.

Achei que o grupo tinha bastante casais de pessoas na faixa dos 50 anos, vivenciando um novo relacionamento. O que eu mais ouvi foi que eles viveram anos de um casamento infeliz (unfulfilled relationship) até os filhos saírem de casa. E aí resolveram procurar um relacionamento mais completo e procuram isso através do tantra. Tinha dois casais mais novinhos e, claro, uns homens mais velhos querendo arranjar mulher. Ou que era mais barato fazer o workshop do que ir somente para o lugar. Ai que horror.

Bom, no fim do curso, eu fiquei um dia a mais no lugar. E fui para as piscinas. E lá, quando estava chegando cruzei com uma mulher magrela bem bonitinha com uma lama no rosto. Quando pus minhas coisas no chão, percebi que estava bem perto dela e ela veio me oferecer a máscara facial, disse que ela mesma tinha feito e que era para tirar toxinas do corpo. Peguei o potinho e passei a meleca no rosto e fui devolver o potinho. Ela levantou quando eu tava chegando e fiquei conversando com o namorado dela enquanto esperava ela voltar. Ela voltou e entre conversa vai e vem, expliquei que tinha ido para fazer o curso de tantra. O namorado dela disse: quando eu a conheci, há 3 anos atrás, estávamos fazendo amor quando ela disse que aquele era o jeito de homem fazer e que ela queria fazer diferente. Estão juntos até hoje. Ela é tântrica e eu também (na teoria pelo menos).