viernes, 14 de agosto de 2009

Ratna Ling I



Ratna Ling é um retiro e um centro de budismo tibetano, fundado por Tarthang Tulku Rinpoche, lama tibetano que veio para os Estados Unidos ,em 1969, com o firme propósito de preservar e ensinar a cultura e a arte tibetana. Inicialmente ele fundou o Nyingma Institute, em Berkeley CA, e hoje tem centros na Holanda, na Alemanha e no Brasil (Nyingma Brasil).

Aqui é lindo, no norte da Califórnia e a viagem até aqui é bem bonita, são umas 3 horas ao norte de São Francisco, pela costa. Conforme vc vai chegando, a paisagem muda, o norte tem uma paisagem mais agrícola, passa pela região dos vinhos, com suas parreiras e começa uma zona rural, cheia de pastos e propriedades agrícolas. E de repente abre, aparece o mar, numa vista linda. A estrada para a propriedade é outro passeio bonito, cheio de pinheiros, verde, subindo. Aqui é distante, a cidade mais próxima fica há uma hora. 

Mas a propriedade é bonita, bem cuidada, cercada por uma cerca branca (que é de plástico, mas engana bem). Aqui foi construído para ser um hotel, então tudo é muito bonito, eles desistiram do projeto e venderam barato para o Instituto que só depois descobriram que estava barato porque a casa principal (lodge) não tem a fundação obrigatória pela lei da Califórnia para terremotos. Tiveram que refazer toda a fundação, trabalho que levou mais de um ano para ser completado. 

Eu tenho meu próprio chalé, que é um luxo, tem lareira que acende apertando o botão, bem coisa de americano, é elétrica mas tem umas madeirinhas e um 
foguinho que engana bem e tem também uma varanda, com mesa e espreguiçadeira. Falo bom dia para as árvores toda manhã. Os chalés, no geral, são para os visitantes, parentes de quem está vivendo aqui e vêm fazer visitas curtas, ou para participantes de retiros e workshops, eu acho que dei sorte, ou a indicação foi boa mesmo. Os residentes vivem aqui, no geral, há muito tempo, abraçaram a causa e fizeram daqui um lar, cada 3 ou 4 dividem casas, mas cada um no geral tem o seu quarto.   Os voluntários ficam em casas também, as vezes dividem quartos e tem um lugar que é chamado de Common, uma casa onde tem várias facilidades e onde fica a tv, os jogos, o dvd, aparelho de música e a lavanderia. Mas onde todo mundo passa mesmo é no lodge, onde são feitas as refeições, tem a cozinha, a despensa, a biblioteca, a administração do centro, sala de aula e uma sala imensa de meditação e espaço para workshops. E uma área externa, cheio de mesas, barulho de água... ás vezes eu gosto de comer aqui, acho relaxante.

Comida vegetariana no almoço, tudo para lanche nos intervalos, muita fruta e se vc precisar encher a geladeira da sua casa, é só fazer a lista que eles mandam. Ou seja, a comida é a vontade e excelente. O jantar vc vai na cozinha e assalta a geladeira, geralmente o que sobrou do almoço (leftover). Eu pedi para a minha geladeira só coisas para o café da manhã, fico com preguiça de ir até a cozinha ou até o Common, então tenho pão (delícia, cheio de grãos e gergelim), queijo suiço, iogurte, granola e fruta. E pedi um pote de Peanut Butter, o nosso famoso amendocrem, que no Brasil não compro e não vejo há anos mas que eu adoro aqui. Só descobri que o negócio tem 200 calorias em duas colheres, então... fico olhando para ele, ele olha pra mim. Ás vezes eu ganho, ás vezes ele ganha. 

Vim fazer trabalho voluntário que começa as 8:00, cantando mantra e acaba as 17:15 cantando mantra também. Tem hora de almoço e dois horários de lanchinho. Mas se trabalha de sábado também. E isso é bem duro porque é horário normal e na manhã tem duas horas dedicadas a cuidados gerais com a propriedade. Em outras palavras, faxina! Bom, tive sorte no primeiro sábado.  Fiquei com o Thistle. Nem idéia do que era isso. Segui a turma, ganhei uma enxadinha com um cabo comprido e fiquei aliviada quando uma americana perguntou o que era aquilo. É um mato, que quando cresce tem uns espinhos e tem que arrancar porque se espalha pela propriedade inteira. Aprendi a reconhecer e agora vejo por tudo quanto é lado. Mas sabe que curti fazer? Sou garota de apartamento, nunca peguei numa enxada, nunca fui pro mato. E é só enfiar a parte afiada da enxada na raiz que o negócio sai facinho. 

E logo depois do trabalho, durante a semana, tem aula. Pena que não tem muitas, é quase uma por noite, o que significa que num período de um mês, tempo que vou ficar aqui,  só vou ter 4 aulas de Kum Nye (yoga tibetana), 4 de meditação (que amanhã já vou dar o cano porque tenho compromisso), 4 de budismo (já perdi uma). Aula de língua tibetana acho que não rola, aula de preservação de textos tibetanos pode ser legal mas é na hora do almoço (eu nunca faço nada nessa hora, é sagrada para comer!). E tem umas aulas de uma hora e meia mas logo em seguida de outra que não deixa nem espaço para jantar. Quer dizer, o povo janta cedo então para eles deve praticamente juntar uma aula na outra. Mas eu não consigo jantar 5:30. Eu, nesse horário, como meu lanchinho, fico aqui no blog ou vou correr. Aliás, não corria desde Sampa (uma vezinha só) mas aqui, correr na estradinha é uma delícia porque ela é quase fechada pelas árvores, o que não deixa bater o sol forte e sempre tem um ventinho. 

Fui correr no domingo, em uma hora de corrida e caminhada pela estrada, passaram por mim, 4 carros, duas bicicletas e duas vacas. Disseram que é porque é verão, tudo fica mais movimentado.

Aqui também têm outros moradores, tem muito veadinho e perus. Dizem que os novos habitantes serão pavões. Mas a maior diversidade é a humana. Tem gente do mundo inteiro aqui, muito brasileiro também, claro, e os voluntários são na sua maioria estudantes recém formados. Ficam de 3 a 6 meses. Acho que para eles deve ser mais difícil, afinal estão no auge das baladas e vir para cá, para trabalhar duro, afastado de tudo, deve ser bem difícil. Mas acho que como tem uma crise rondando por aí, e estudante aqui sai endividado da faculdade, aqui é uma opção. E acho que vêm quem se interessa mesmo porque vejo muitos deles lendo os livros e participando das aulas.

Acho que aqui é aquele lugar de sonho, verde, bonito, tranquilo e seguro. Eu na primeira semana trancava minha casinha, agora, segunda semana, largo tudo aberto. É que eu quase perdi a chave, então resolvi parar de perder coisas. Só não levar a chave. Simplificando.

2 comentarios:

claudia dijo...

que lindo tudo, parece que estou algum livro....

Karen's updates dijo...

Ju, fico feliz que voce esteja gostando :-) eu tenho lindas recordacoes desse lugar e das pessoas que ai conheci.
beijos