martes, 12 de mayo de 2009

Dias de reforma

Essa é a minha última semana aqui. E não posso sair de casa! Estou com a casa cheia de pedreiros e o pátio central do condomínio também está em obras. Um barulho só. 

É que esse prédio tem um pouco mais de 10 anos e é o que eles chamam de "vivenda protegida" , ou seja, o Governo subsidia algumas construções, geralmente em bairros mais afastados para desenvolver outras regiões. Mesmo onde estou hoje, dizem que há alguns anos era área de gitanos e bem pobre. Hoje é um bairro bem residencial, cheio de casais e crianças pequenas andando pelas ruas, nos bares e nos parques. É bem feito porque é planejado, tem hospital, supermercados, escolas, metro. Os prédios não podem ter mais do que 5 andares porque fizeram os cálculos e esse é o ponto de equilíbrio para fluidez do trânsito, recolhimento de lixo, infraestrutura. 

Madrid não é uma cidade grande, mas cada vez cresce mais e já está se juntando há alguns pueblos, tudo devidamente ligado pelo metrô. Isso me impressiona muito. Principalmente porque tem centros comerciais distribuídos em todas as regiões o que tira o trânsito do centro. O Manu mesmo optou por viver aqui porque está há 10 min do lugar onde ele trabalha, ao lado da estrada para Zaragoza. E de carro, estamos há 15 min do Centro. 

Mas esse prédio foi malfeito porque quando vieram os primeiros moradores, logo apareceram rachaduras no prédio inteiro, nada muito grande mas se vê. E os jardins não foram impermeabilizados e quando chove, dá goteiras na garagem. A associação dos moradores entrou com um processo na justiça na época e finalmente saiu a sentença e a construtora está reformando tudo. 

Aqui começou ontem e deve acabar semana que vêm. Mas me segura um pouco aqui. Uma pena porque queria passar meus últimos dias visitando a cidade e comprando as últimas lembranças. 

Os pedreiros aqui de casa são poloneses. Loiros de olhos azuis e ficam ouvindo música pelo celular. Ofereci algo para beber e não tiveram dúvidas em me pedir cerveja! Aqui todo mundo bebe algo, os menus do almoço sempre tem vinho e cerveja e vejo todo mundo bebendo. Quinta feira estou liberada porque é "puente". É que sexta é feriado, dia de San Izidro, santo padroeiro de Madrid. Eu não tinha esse conceito de ponte que eles tem. 

Será que vcs me entendem quando digo que fico com raiva quando alguém diz que brasileiro gosta de festa e que se trabalha pouco no Brasil? Eu já ouvi isso algumas vezes. Ás vezes, assim direto mesmo, outras mas sutilmente. Quem me acompanha deve ter visto que aqui tem feriado do dia dos Reis, semana santa (semana mesmo!)... vão contando!

Aqui é muito difícil ver as pessoas saindo tarde. O Manu até comenta que alguns amigos dele que trabalham na Telefonica, Santander ou outras empresas grandes saem mais tarde. Tarde é que horas? Até umas sete, oito as vezes. 

Uma coisa eu acho certo, somos menos produtivos, paramos para um café ou para um papo. As reuniões são mais longas porque sempre tem um aquecimento, perguntar da família, do futebol... Aqui todo mundo é mais direto. Eu não me acostumei ainda. As vezes acho meio grosseiro até, opinião compartilhada com outros conterrâneos. 

Mas sei que é cultural. Quero ver o dia que eu for atender o telefone assim: "digame".

Percebo também qdo o Manu tenta falar em português. Ai que eu percebo como falamos no diminutivo e nunca falamos diretamente, geralmente em forma de pergunta ( vc pode me dar uma ajudinha aqui?).

O Kike, meu amigo espanhol que morou 4 anos no Brasil, atento e inteligente e talvez até por exigência da profissão, me disse que ia escrever um livro sobre o Brasil com o título "Ter tem, mas hoje tá em falta". Diz que brasileiro não sabe falar não. 

Mas pelo menos nós brasileiros não falamos o monte de palavrão que falam aqui. Ah não vou repetir. O engraçado é ver isso nos textos dos jornais, na própria televisão.

Espero que as lojas não fechem na ponte de quinta. Preciso comprar lembrancinhas!

2 comentarios:

claudia dijo...

Tem que vover fora do pais para entender o brasileiro ne? MOrando aqui eh que fui decubrir porque brasileiro nao gosta de argentino, acha que eh mal educado.... Pega esses espanhois dai e mistura bem com os italianos - mistura explosiva ! Sao diretos, falam na cara, nao gostam de perder tempo (como os americanos) mas nao se importam de deixar bem claro isso (nao como os americanos). Se fechou o tempo sobem nas tamancas como os italianos. Nos nao conseguimos dizer absoutamente nada diretamente. Me lembro dos tal de "roundtable" da E&Y... os americanos queriam morrer ! Para os brasileiros dar um feedback honesto e objetivo eh uma tortura!. Acho que eh o tal do "bonitinho" que para nos significa o "feio arrumadinho". Gostaria de saber de onde vem isto... Alguem ai conhece Portugal, a cultura, o povo? SO pode ser de la.... Acho que quem mora fora tem o privilegio de conhecer outras formas de ser socialmente e de escolher o melhor de cada cultura. Eu ja me argentinizei na medida certa - nao vem pra cima de mim nao que nao deixo. Mas com uma boa pitada de ordem e respeito canadense e a "diplomacia" brasileira. Somos mutantes!!!

judit kong dijo...

Clau,

definiu bem, somos mutantes, nos adaptamos.

Sabe que há muitos anos atrás, eu tava no Unibanco e teve uma reunião do meu diretor com o diretor de um banco portugues. Meu diretor se despediu do cara e saiu rindo e mostrou para gente o cartão que havia recebido. Tinha o nome inteiro do cara. Nada de telefone, nada de email. Ou seja, como contacta-lo?

E morri de rir esses dias, recebi um cartão de um portugues. Igual! Só o nome inteiro do cara. E ele tinha me dado para eu enviar umas fotos para ele!
Tudo bem que ele pos o celular na mão... mas email não tinha não.

Vai entender. Deve ser estratégico. Ele só põe se realmente quer ser contactado. Como não tinha email, não mandei. Entendi que não queria receber e pronto.

Bjos,