miércoles, 4 de febrero de 2009

China

Isso nunca me aconteceu no Brasil. E aqui já me aconteceu 4 vezes. A primeira eu fui no supermercado e o atendente da banca de peixes (yes, estou cuidando do meu colesterol) olhou para mim e disse: "Nhi hau mau?" Desculpem a minha escrita livre de Tudo bem? em chines. O cara é um garoto, loiro de olhos azuis. Me contou que está estudando chinês.

Outro dia eu estava esperando o Manu, dentro do carro enqto ele ia rapidamente no banco e um cara ficou me olhando e começou a falar comigo em chinês. Um cara espanhol, moreno, simpático. Abri a janela para entender e ele tava cheio de jornal chinês e falando! Expliquei que falava portugues e ele me disse que trabalhava para diminuir a violência e o abuso aos direitos humanos na China. Eu e o Manu assinamos um abaixo assinado que ele tinha.

Teve outro mas vou pular e contar o de ontem que achei fofo. Eu fui no Mercadillo (a feira daqui) e eu queria comprar champgnons. O cara que me atendeu fez igual: "Nhi hau mau?", respondi educadamente em chinês: "Nhai haw, tochan." (Tudo bem, obrigada). "Pero tu tambien puedes dicer me bom dia porque soy brasilena. Y el me contestou: "Nosotros somos vecinos, soy de Bolivia"! Y me regalou con un poco de perejil.

Hehehe, a Clau tem razão. Uma confusão só de línguas! No final, falamos uma língua que só a gente entende.

Bom, todos sabem que morreram muitos judeus na Segunda Guerra Mundial, cerca de 6 milhões. E sempre me espantou o fato como esse fato é difundido, filmes foram feitos, retaliações e ajuda e indenizações foram pagas aos sobreviventes e seus descendentes. Nada mais justo. 

Mas o que me surpreende mesmo, é que morreram 32 milhões de chineses, no espaço de dois anos, se não me falha a memória entre 1959 e 1961. Alguém sabe disso? Morreram de fome. E a China é tão fechada que isso não se divulga. 5 vezes mais. De fome. A mesma fome que fez com que meus pais fugissem da China. 

Naqueles anos, a China quis ser uma grande produtora de aço e incintaram todos a produzir isso. As pessoas saíram do campo, chegaram a derreter panelas! No ano seguinte, não havia produção agrícola. Li isso num livro, há muitos anos, chamado Cisne Selvagem. Um livro pesado mas que fala muito da china através da visão de uma mulher, que hoje vive na Inglaterra portanto, livre para falar.

Recentemente, o Kike, nosso amigo em comum aqui, me disse que o Raul estava na China. Eu conheci o Raul, numa passagem rápida em Sampa. Cara novo, brilhante, amigo até hoje do Kike. E ele tem um blog que eu coloquei na listinha aí ao lado. 

Eu acompanho a China há alguns anos. Adoro os filmes feitos pelos cineastas chineses, li muito livro da Amy Tan, uma filha de chineses nascida nos Estados Unidos. Mas estou longe de dizer que admiro a China. Acho que a revolução cultural acabou com a milenar cultura, porque hoje só vejo muita ambição. Crescer e ganhar dinheiro a qualquer custo. Vejam recentemente o caso da adulteração do leite que matou crianças! 

E vejo isso no dia a dia. Nos parentes e amigos chineses, claro que não nessa magnitude mas nas pequenas coisas.

Minha última surpresa familiar. No último almoço em família, meus pais convidaram um casal de amigos que nos acompanham desde que eu me conheço por gente. Minha mãe me puxa para o lado e me diz que falou para eles que eu estou indo para Madrid a trabalho. Como assim? Por que vc disse isso? Claro que ela não me respondeu. Alguns minutos depois, lá vem a pergunta. "Vc vai ficar trabalhando quanto tempo lá? ". 

Respirei fundo. Não gosto de mentir, mas também desmentir a minha mãe assim. Não tive coragem. Respondi: eu gostaria de ficar pelo menos dois anos. 

Ela simplesmente não teve coragem de dizer a verdade. Eu falei com ela depois, pedi para ela nunca mais mentir. Porque essa não é a primeira vez. Tem outras, e fortes! E aí ela me disse: "vc quer que eu diga a todos que vc não conseguiu um homem aqui e teve que ir atrás de homem lá na Espanha?"

Hehehehe, se ela soubesse! Hoje eu rio, mas eu convivi com isso a minha vida inteira. A perversa lógica inversa da cultura chinesa.

Por hoje é só. Vou nadar! 

2 comentarios:

claudia dijo...

Ai Ju, voce lembra do livro "the joy luck club"? Essa historia da sua mae eh pura passagem do livro ! No fundo acho lindo....Eh uma outra maneira de pensar de "ler" os acontecimentos. Da para falar que ta errado ?
A China tem uma historia fascinante - mas ainda acontece muita coisa feia por la , a historia das meninas abandonadas eh terrivel. Nao vale a pena divulgar ne, ai eles nao fazem nada. A campanha de mkt eh de potencia econnomica e poder nuclear. So vao divulgar quando nao estiver masi acontecendo nada.
Triste.
Beijos,

judit kong dijo...

Clau, eu li sim e li vários outros dessa autora. E sempre me surpreendeu que a forma que ela escrevia era exatamente da forma que a minha mãe falava e pensava. E é surpreendente como é diferente. Mas vc tem razão, não é errado, É cultural. Mas tem um sentimento nisso tudo que eu ainda não sei bem como chamar. Eu decidi que vou escrever um pouco do passado aqui. Aliás, um pouco não. Vai virar memórias e ai vc me dá sua opinião.
Morrendo de saudades de vc! Bjos