miércoles, 4 de febrero de 2009

Sequência

Outro dia um amigo me perguntou como conheci o Manu, pergunta normal, trivial. Eu tenho duas respostas, a sumária que é "temos um amigo em comum, espanhol também que eu conheci no Brasil. E a completa onde eu conto onde conheci o Kike e como vim parar aqui  na casa do Manu. Mas essa é outra história. 

Esse meu amigo continuou, "ah então é por causa desse amigo que vc mudou a sua vida".... Eu sempre fico pensando sobre isso. Lembro que li há muitos anos a Insustentável Leveza do Ser, do Milan Kundera. A história se passa em Praga, não pude deixar de lembrar qdo fui para lá. E lembro que no livro ele fala que conheceu a mulher da vida dele por causa de 7 coincidências. 

E essa cabecinha que não para, vive pensando nessas coisas. Bom, eu fiquei pensando qual era a sequência, a quem eu devia o fato de conhecer o Manu e estar aqui.

Vamos lá:

1) Ele é amigo desde a adolescência do Kike que eu conheci numa balada na praia. Os amigos mais antigos conhecem essa história e um dia, talvez eu conte.

2) Mas eu só fui nessa balada porque a Andrea Margit me pediu com todo o jeitinho dela para irmos. E eu não consigo falar não para ela. Então, com a camiseta do pijama que eu já tinha colocado e um jeans fomos. A Clau foi dormir. 

3) Mas a gente foi para a praia porque a Clau estava com vontade de ir para a praia, achou a pousada e fez a reserva, como sempre fez e organizou tudo. Eu só dirigi até lá.

4) Eu conheço a Clau de longa data, da GV

5) Eu entrei na GV por causa da balconista do cursinho do Anglo lá de Osasco.

Bom, não deu 7, deu só 5. Ainda bem, tava ficando longo.

Eu nasci em Osasco, cidade dormitório que hoje tá até bonitinha com os grandes magazines que foram para lá graças a um imposto menor e por estar no encontro do rodoanel. Cresci lá e com 7 anos entrei na escola, Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Prof Jose Liberatti. Não fiz pré, não fiz jardim. Entrei direto no primeiro ano, sabia repetir o alfabeto que minhas irmãs insistiam em me fazer decorar. A professora rapidamente descobriu que eu não sabia ler nem escrever, falou isso na frente de todo mundo, eu lá de pé, na frente da lousa. Fazer o que.

Lembro que a máscara de coelho da Páscoa, foi ela que acabou para mim, terminou de recortar porque cansou de me esperar. Do Liberatti eu fui fazer o colegial no ITO, Instituto Tecnológico de Osasco, a escola técnica municipal. Fiz exatas. Éramos 38 na classe, qdo terminamos acho que tinha uns 17. O curso foi bom, de lá saiu gente para a Unicamp (a minha amiga loira e linda),  3 para a USP, 1 para a Escola Aeronáutica, eu para a GV. Foi um fenômeno.

No terceiro colegial, nos incentivaram a ir tentar bolsa  no cursinho Etapa da Vergueiro. Eu nunca tinha visto várias coisas, como número elevado a fração. Eu não consegui bolsa nenhuma. Mas esses que entraram na USP e na Escola Aeronáutica conseguiram. Consciente da minha ignorância, pedi para o meu pai para fazer cursinho em Osasco. Esse professor que nos incentivou tem mérito. Eu agradeço a ele, infelizmente não lembro o nome. Baixinho e japonês, bom professor.

Fiz e um dia, próximo do final do ano passei na frente da secretaria do Anglo e tinha uma faixa, Abertas as inscrições para  a Fundação Getúlio  Vargas. Entrei e perguntei para a menina que estava lá se a GV era boa. A cara que ela fez! Como se eu estivesse em outro mundo. "É a melhor faculdade de administração da America Latina" Então tá. 

Hoje eu me divirto com essa história. Claro que tinha sempre questão da GV nos simulados, mas tinha também da Ufesp, Cesgranrio... sei lá. Um monte. Como eu ia saber que a GV era boa?

Bom, eu fiquei olhando e me deu um negócio. Fiquei pensando então é ai que quero entrar.

No dia 09 de fevereiro, saia a lista dos convocados. Era meu aniversário, um dia cinzento, nublado. Eu peguei o jornal, procurei o meu nome e não encontrei. Tristeza.

Eu não estava fazendo nada, resolvi pegar o ônibus e ir ver. Afinal, eu tinha que saber qual era a distância entre o sonho e a realidade. Peguei o trem, o ônibus e finalmente cheguei na GV, um prédio feio, nada demais. E tava lá, grudado na entrada os nomes e notas dos inscritos. 

Não vou lembrar mais dos números, portanto vou dizer algo bem aproximado tá? A nota de corte tinha sido 5,71. Minha nota er 5,65. A distância era muito pequena. Não estava louca, nem tinha sido um sonho impossível.

Fui andando até a Consolação onde eu sabia que tinha um cursinho específico para a GV. Cheguei e pedi informações, a mulher me perguntou se eu já tinha tentando. Disse que sim, que tinha acabado de tentar e não tinha conseguido. Ela me perguntou a nota. Eu disse. Ela disse que eu tinha entrado. Sorri, falei que não, que a nota de corte tinha sido maior. Ela me respondeu, "vc não tá entendendo. Vc com certeza entra na segunda chamada. Tem gente que desiste, vc pode não ser a primeira a ser chamada porque tem gente que fica por menos. Mas que vc com certeza vai ser chamada, vai."

Entrei. Filha de imigrantes, sem falar inglês, vinda da escola pública da periferia de Sampa. Entrei. Nunca na minha vida fui a aluna com as melhores notas, tinha boas notas mas longe de ser a melhor aluna. Burra não sou, mas excepcionalmente inteligente também não sou. Me considero um pouco, muito pouco acima do normal. Mas eu fui persevante. Eu queria entrar. Estudei, estudei muito.

Eu entrei na USP e na GV. Escolhi GV e foi fácil convencer meu pai. Na USP só havia conseguido entrar a noite, e a USP andava perigosa naquela época. E a GV na época era 5% mais cara que o Mackenzie, não é o absurdo que é hoje. 

Minha mãe chorou. De tristeza. Ela nunca havia ouvido falar na GV. Para ela, e para os amigos chineses, o bom era estudar na USP. Esse era o sonho de toda mãe chinesa. Lo siento, como dizem aqui.

Bom, começou ai. 



4 comentarios:

claudia dijo...

Ai Ju que lindo...eh incrivel a gente comecar a pensar nos caminhos que gente tomou. Acho tbem que revisar as historias passadas ajuda a reconhecer o quanto andamos, desenvolvemos, crescemos - faz parte da maturidade. Agora, com vergonha pergunto.... que praia era esta ? (num me lembro...)

claudia dijo...

nao era barra do sahi ?

judit kong dijo...

Tem toda razão, Clau. To aqui liberando fantasmas do armário e amando!

A praia era Camburi, ficamos numa pousada linda que vc que escolheu, dava para ir andando para a praia. E andando tb para o Galinhão, ops, Galeão!

Bjo,

claudia dijo...

Ju, voce sabe que apesar de ir inumeras vezes para o litoral NUNCA fui no Galeao ? Acho que gostava mais de dormir hehehe