lunes, 2 de febrero de 2009

Vida de imigrante

Eu não sei é impressão mas as vezes sinto que tenho sempre que estar contando tudo que vivo aqui, porque aqui minha vida é boa. Fico incomodada quando recebo aqueles emails de duas linhas perguntando como estão as coisas e dizem assim: 'aqui continua tudo igual". Ou alguém me manda um msn assim: "E ai?" (desculpa, querida, foi inevitável). Como assim tudo igual? Duvido. Não quero as novidades, quem tem sempre novidades? Eu não tenho. Mas gostaria muito de ouvir como anda a vida, os problemas, o sapato novo, o velho cansaço das coisas. 

Como quando eu estava ai. 

As pessoas pensam que vivemos numa bolha, que a vida é ótima, tudo certinho... Claro que tem coisas boas, mas tem coisas ruins também. A saudade dos amigos, da comida, do dia a dia, de poder pegar o carro e sair dirigindo sem medo de se perder.... E as incertezas que eu vivo por estar aqui? Fácil não é. Mas encaro. E faço isso da melhor forma, foco no lado bom, no lado do aprendizado e da vivência. E valorizo os momentos felizes.

Me desculpem se me repito, tenho impressão que já escrevi isso. Esse exercício de valorizar os momentos bons, eu fazia em Sampa tb. Apesar da insatisfação no trabalho, dos relacionamentos que iam água abaixo... eu sempre encarava minha vida da melhor forma e sempre focando nas coisas positivas. Nem por isso me acomodei e era feliz ai em Sampa tb.

Cultivei o melhor, os amigos, a familia, os valores. Perdi pessoas no caminho, perdi oportunidades, perdi trabalho, fui odiada por nao ter feito coisas, por ter dito não ou simplesmente por ser eu. Magoei, fui magoada. Enfim a vida não é fácil não. Esteja onde vc estiver. 

Bom, resolvi contar minha vida de imigrante aqui, o lado normal. Eu e a Déa, que tá vivendo na Suiça, trocamos figurinhas hoje sobre isso.

Aqui no geral, eu ando de metro, e ando até o metro. Aqui eu faço faxina porque faxineira custa caríssimo, então todos fazem a sua parte de faxina. Deixar para a faxineira (aqui chamam de assistenta) lavar louça, lavar roupa, arrumar a cama e a casa, passar aspirador é puro desperdício de dinheiro. Entao eu faço todas essas coisas e deixo ela fazer as coisas pesadas como limpar o banheiro, os pisos e passar camisas. 

A Dea disse que na Suiça as faxineiras passam camisas sim mas cobram por peça. Fiquei feliz que isso não chegou aqui. Mas na boa, nem me importo, acordo, dou um tapinha na casa, qdo tem muita louça eu ponho na máquina, senão eu lavo. E quando vem a Eugenia, toda terça, 3 horas, eu aproveito e faço a minha parte. É o dia que nem saio de casa, mas fico com ela que é uma Romenia forte, inteligente e faz tudo super bem.

A Eugenia me disse outro dia que lá na Romenia faz -30 graus no inverno. Congelador faz -20 graus, só para comparar. E lá a economia é ruim e não tem emprego. Ela me trouxe outro dia um pouco da comida típica deles. Fiquei bem surpresa. É um charuto de repolho, recheado de carne e arroz. Comida árabe! Mas tem a sua diferença, eles fazem do repolho um chucrute antes de rechear e enrolar. Tem cheiro forte, o Manu não quis nem experimentar. Eu comi junto com o iogurte natural que ela trouxe junto para comer da forma típica. Uma delícia, comi tudo, inclusive a parte do Manu! Ah, não tem foto não. Mas na hora que esquentei, saiu gordura para tudo quanto era lado. E eu tentando cuidar do meu colesterol.

E quando eu saio então, eu com essa cara chino, antes de abrir a boca eu vejo a cara da pessoa, parece que está escrito que ela não vai conseguir me entender. A pessoa estende o pescoço, tenta ficar mais perto, aperta os olhos... E ai, eu começo a falar, devagar, e a pessoa percebe que falo algo e desata a falar. Bom, ai quem não entende nada sou eu!

Aqui é época de liquidação. Tá tudo com 60%, 70% de desconto. E tem coleção nova. E eu ando muito por aí. Po, me controlo para não comprar as coisas. Primeiro que não tem onde colocar, segundo que eu não tenho mais renda. Aliás, minha única renda é o aluguel do meu apê que paga alguns custos fixos no Brasil (tipo plano médico, CRA, custeio de algumas coisas que sempre fiz) e a hora que converto em euro, não sobra nada. E eu faço questão de pagar minhas coisas e banco algumas coisas aqui também. 

Mas sabe o que imigrante mas sente falta? De notícias, não de novidades.

Beijos e saudades. E desculpem se alguém se incomodou.

PS: e peço desculpas aos meus amigos expatriados, imigrantes e afins por nunca ter entendido isso antes e enviado notícias.

4 comentarios:

claudia dijo...

Viva !!! Alguem me entende! Ufa, as vezes eh cansativo e parece que todos pensam que vivemos em um conto de fadas... que como alfajor todos os dias, que vou na recoleta tomar cafe etc... A vida continua normal, com todas as incertezas, certezas etc... O lindo eh que exercitamos outro olhar, ne Ju? Por ex. aqui ao inves de romenia temos paraguayas... uma cultura a parte, um dia te conto !

judit kong dijo...

Mana,

obrigada pela suas palavras. Qdo terminei achei que tava exagerando. Mas ai pensei que não, que realmente era genuíno. Fui lembrando dos emails, dos msns... E sempre soa na minha cabeça uma frase que me disseram uma vez: "porque a sua vida sempre foi fácil". Como assim??!!! Eu sempre a tornei mais fácil, resolvendo os problemas. Mas tem gente que só vê um lado ne?

Bjos, saudades e amor!

hehehe, adoro esse crochê digital.

Karen's updates dijo...

Ju, como te disse outro dia no telefone, os "sintomas" são esses mesmos. Chegaram a me dizer que eu tinha a vida glamourosa, eu que ia trabalhar de ônibus, trem e ainda pedalava uns 10 minutos para chegar no escritório.Tudo isso com um sorriso que quase dava caimbras de tanta felicidade. E porque passava o fim de semana em Paris, me chamaram de snob (fui de trem, 2a. classe e fiquei na casa de uma amiga - mas quem quer saber?!)
Así que yo, Karen, comprendo lo que mis queridas hermanas dicen!
Beijos!!!!!!

judit kong dijo...

Ka, e aí, a gente incentiva ou desmascara? hehehe, eu gosto dos dois. Um dia desses vou por um que vão achar que no paraíso!

Bjos!